domingo, 25 de novembro de 2012

O atendimento do paciente somático



Existe algum tipo de cuidado no atendimento do paciente somático?


Esta é outra dúvida muito comum, principalmente pelo fato de que a doença física não é demanda para terapia. O normal para qualquer atendimento psicoterápico é seguir o prot
ocolo normal em busca da demanda, conflitos, história de vida e trabalhar as questões psicológicas.

Seguindo a abordagem clássica, a doença aparece como uma importante variável que complica a vida pessoal, mobiliza a família e interfere na parte profissional.
Vou utilizar como exemplo a abordagem psicanalítica, mas o raciocínio abaixo pode ser estendido a qualquer abordagem.
Inicialmente vou conceituar o que seria um paciente somático. Um paciente que possui uma doença resistente aos medicamentos ou que seja recorrente ou crônica, ou ainda um paciente com alguma doença progressiva como câncer ou doença cardíaca e que a doença está de alguma forma presente na terapia mesmo que não seja demanda principal.
É importante conceituar também o atendimento psicanalítico. Um atendimento que possui como base teórica a psicanálise e é focado no trabalho com os conflitos inconscientes ou intrapsíquicos que aparecem na relação transferencial com o terapeuta. A simbolização e as fantasias inconscientes são a matéria prima para a interpretação do analista que aos poucos promove a mudança, o alivio do sintoma e uma mudança geral na dinâmica psicológica do paciente.
Lembrando que Freud utilizou a psicanálise em certo tipo de paciente fartos de conflitos internos e em condições de fantasiar e simbolizar.
Imaginem um paciente cujo aparelho psíquico não possui a maturidade nem mesmo para desenvolver sintomas psicológicos como os pacientes de Freud, imaginem um paciente que vive de forma muito concreta e imediata, um paciente que não entende onde entraria um conflito psicológico em sua vida, que não sonha ou sonha muito pouco, que tem uma pequena e insistente falta de energia parecida com uma depressão sem objeto definido.
Este paciente quando se defronta com uma tensão não tem uma reação psicológica como uma fobia ou ansiedade, não busca um chocolate ou uma cerveja, ele apenas adoece.
Para este paciente uma interpretação psicanalítica, por exemplo, que encontre um prazer proibido ereprimido que ele sentiu na infância e que seria muito bom para um neurótico, pode provocar uma retraumatização como aquela descrita for Ferenczi.
Em resumo, um paciente onde predomina o viés somático , como vazão para os conflitos, não possui um aparelho psíquico completo que suporte uma psicoterapia clássica, este paciente precisa de um tipo de terapia muito protegido e suave no qual possa desenvolver melhor seu psiquismo para algum dia poder dar vazão para a tensão de forma motora ou por um sintoma psicológico. O terapeuta precisa muito mais funcionar como um ego auxiliar ou uma referência materna do que um tradutor da cena inconsciente.
Obviamente não existe um paciente totalmente somático ou seja, sempre existe uma parte do paciente não analisável por não ser simbólica.
Em resumo, sempre há algo para traduzir , mas sempre há algo para construir muito mais delicado e infantil.
Cabe ao terapeuta saber que uma interpretação ou a própria teoria psicanalítica pode ser nociva em alguns casos e terapêutica em outros e agora o corpo é a melhor referência.
Agora não são somente os sintomas psicológicos que estão na pauta, a evolução e as crises físicas também mostram como está a terapia. Não temos mais o paciente dividido em dois : Corpo e Mente.
Parece complicado, mas não é , pois a melhora dos sintomas físicos é até mais facil de perceber que a melhora psicológica.
O mais importante deste artigo é gerar um desconforto no terapeuta para conhecer um pouco mais da importante relação entre o psicológico e o físico que se chama Psicossomática.
Em breve começaremos a falar da teoria que define melhor o que seria este delicado aparelho psíquico "imaturo" do somatizador.

(Prado, A.F para Blog http://psicossomaticaararaquara.blogspot.com.br)

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