Para
iniciar a discussão precisamos definir o que entendemos por assédio moral. Na
maioria das publicações o assédio moral é definido como sendo a relação onde
estão presentes uma pessoa que detém o poder e o utiliza para agredir e
humilhar uma outra pessoa mais fraca que seria a vítima.
Nossa definição de assédio moral é
um pouco diferente. Não invalida a definição clássica, mas inclui algumas
variáveis fundamentais para nosso trabalho.
O assédio moral, de fato pode
culminar numa fase de violência franca por parte do assediador, mas o início
desta relação traumática se estabelece de forma sutil e insidiosa.
Normalmente o assédio é iniciado com
o assediador, se colocando como vítima, e atribuindo uma culpa à sua vítima.
Marie-France Hirigoyen define esta fase como enredamento.
Um exemplo desta fase seria o caso
de um gerente que alega falsamente estar sendo prejudicado pela fraca
produtividade e pelo desequilíbrio emocional de seu funcionário e compartilha
esta preocupação com todos da equipe, dizendo que toda equipe está sendo
prejudicada. Desta forma também ganha o apoio de todos, sem possibilidade de
defesa para o acusado. Quando o funcionário o procura ou à algum amigo para
saber o que está ocorrendo, todos negam que haja algo errado, mas ninguém mais
o apoia nos trabalhos quotidianos e aos poucos ele é isolado, ninguém o ajuda
no dia a dia, seus acertos não são contados e seus erros são superestimados. O
funcionário está sem saída, se reclamar vai confirmar o seu descontrole
emocional. Nestas condições de pressão sem defesa o que ocorre na maioria das
vezes é o adoecimento por problemas emocionais ou por doenças ligadas ao stress
agudo.
Em minha visão este tipo de relação só se
estabelece, se mantém, e chega ao ponto de provocar graves reflexos emocionais
e somatizadores por se tratar de uma dinâmica secundária, ou seja, por se
tratar da repetição de um enredamento primordial ocorrido na fase de desenvolvimento
do aparelho psíquico, ou seja, na infância.
A partir daí chamo a atenção para mais
dois outros pontos fundamentais. Não importa se o assédio é ou não intencional,
o essencial é reconhecer a existência de uma vítima e a existência de um
assediador que se vitimiza de forma manipulatória e falsa.
Outro ponto a destacar, e que será melhor explorado posteriormente é o
fato de que existem dois elementos retraumatizantes a considerar na terapia do
paciente com trauma desmentido. O primeiro é o não reconhecimento da dinâmica
traumática pelo terapeuta, e a segunda é a visão fundamentalmente intrapsíquica
que tenta explicar o sintoma apenas com base no aparelho psíquico da vítima, sem
enxergar o ambiente e as relações nocivas que se repetem na vida do paciente,
pois este dois tipos de comportamento do terapeuta repetem o desmentido original.
(Prado, A.F - A Alienação Perceptiva : O Assédio Moral Infantil e sua relação com os processos de somatização, Cap 1 - Monografia ESpecialização em Psicossomática Sedes Sapientiae)
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