terça-feira, 27 de novembro de 2012

Nossa Visão do Assédio Moral para o trabalho clínico


Para iniciar a discussão precisamos definir o que entendemos por assédio moral. Na maioria das publicações o assédio moral é definido como sendo a relação onde estão presentes uma pessoa que detém o poder e o utiliza para agredir e humilhar uma outra pessoa mais fraca que seria a vítima.
            Nossa definição de assédio moral é um pouco diferente. Não invalida a definição clássica, mas inclui algumas variáveis fundamentais para nosso trabalho.
            O assédio moral, de fato pode culminar numa fase de violência franca por parte do assediador, mas o início desta relação traumática se estabelece de forma sutil e insidiosa.
            Normalmente o assédio é iniciado com o assediador, se colocando como vítima, e atribuindo uma culpa à sua vítima. Marie-France Hirigoyen define esta fase como enredamento.
            Um exemplo desta fase seria o caso de um gerente que alega falsamente estar sendo prejudicado pela fraca produtividade e pelo desequilíbrio emocional de seu funcionário e compartilha esta preocupação com todos da equipe, dizendo que toda equipe está sendo prejudicada. Desta forma também ganha o apoio de todos, sem possibilidade de defesa para o acusado. Quando o funcionário o procura ou à algum amigo para saber o que está ocorrendo, todos negam que haja algo errado, mas ninguém mais o apoia nos trabalhos quotidianos e aos poucos ele é isolado, ninguém o ajuda no dia a dia, seus acertos não são contados e seus erros são superestimados. O funcionário está sem saída, se reclamar vai confirmar o seu descontrole emocional. Nestas condições de pressão sem defesa o que ocorre na maioria das vezes é o adoecimento por problemas emocionais ou por doenças ligadas ao stress agudo.
             Em minha visão este tipo de relação só se estabelece, se mantém, e chega ao ponto de provocar graves reflexos emocionais e somatizadores por se tratar de uma dinâmica secundária, ou seja, por se tratar da repetição de um enredamento primordial ocorrido na fase de desenvolvimento do aparelho psíquico, ou seja, na infância.
            A partir daí chamo a atenção para mais dois outros pontos fundamentais. Não importa se o assédio é ou não intencional, o essencial é reconhecer a existência de uma vítima e a existência de um assediador que se vitimiza de forma manipulatória e falsa.
Outro ponto a destacar, e que será melhor explorado posteriormente é o fato de que existem dois elementos retraumatizantes a considerar na terapia do paciente com trauma desmentido. O primeiro é o não reconhecimento da dinâmica traumática pelo terapeuta, e a segunda é a visão fundamentalmente intrapsíquica que tenta explicar o sintoma apenas com base no aparelho psíquico da vítima, sem enxergar o ambiente e as relações nocivas que se repetem na vida do paciente, pois este dois tipos de comportamento do terapeuta  repetem o desmentido original.


(Prado, A.F - A Alienação Perceptiva : O Assédio Moral Infantil e sua relação com os processos de somatização, Cap 1 - Monografia ESpecialização em Psicossomática Sedes Sapientiae)

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