Este assunto é muito delicado e está na
raiz de muitas doenças.
Por um lado, sabemos que a violência
contra a criança é nociva e proibida por lei e por outro lado sabemos que
atitudes por parte dos pais para evitar que as crianças se comportem de forma
inadequada ou perigosa e que geram reações fortes de choro por parte da criança
são comuns e inevitáveis.
Para abordar este tema teremos que tratar
em separado a perspectiva dos pais e depois na perspectiva da criança, para
depois falar a respeito da interação entre eles.
Os pais:
· - Nossa
principal defesa contra o aumento de tensão é a racionalização, ou seja, criar
uma teoria que reduza nossa tensão.
· - A criança é
um suporte perfeito para liberarmos nossas tensões. Quando estamos no limiar da
explosão, qualquer atitude da criança que nos desagrade pode servir para
descarregarmos toda tensão acumulada sobre ela de uma só vez. Isto responde a
reação exagerada que muitas vezes temos diante de uma atitude normal da
criança, como quebrar um objeto ou riscar uma parede.
· - Somos
profundamente influenciados por nossas vivências infantis. Um dia, certamente
fomos duramente repreendidos por um adulto e não pudemos reagir e isto ficou
marcado em nós. Só agora temos as perfeitas condições de imitar nossos pais e
temos uma pessoa mais fraca para servir de suporte.
· - Somos muito
influenciados por terceiros, principalmente pais ou profissionais da saúde. Não
existem provas científicas que incentivem frustrações recorrentes em nome da educação ou
para que a criança, quando se tornar mais velha, tenha limites.
· - Todos sabem
que as crianças imitam os adultos, portanto as reações agressivas dos adultos
funcionam muito mais para ensinar a agressividade para a criança do que para
dar limites.
· - É importante
ressaltar que a criança possui teorias mágicas e uma onipotência natural que
faz parte do desenvolvimento de sua personalidade. Um adulto que pense que a
criança está medindo forças consigo deve entender que está criando uma teoria
para justificar atitudes próprias suas que tem pouco a ver com a criança.
A criança:
· - A criança é
um ser muito frágil e sempre é a parte mais fraca numa relação com um adulto,
mesmo que muitas vezes tente-se justificar que a criança possui um poder de
controle sobre o adulto.
· - A criança
pequena está em fase de desenvolvimento e nesta idade, suas defesas contra o
aumento de tensão são predominantemente de duas ordens : Desconforto que gera
reações de choro ou reações motoras de jogar coisas ou se jogar no chão. As
defesas mais evoluídas do adulto como argumentar, discutir, gerar teorias
justificatórias e até mesmo comer algum doce ou chocolate são muito evoluídas
para uma criança.
· - A criança
necessita de uma fase de acolhimento para desenvolver segurança e as outras
defesas contra o aumento de tensão.
· - A criança é
muito permeável a tensão proveniente da ira de um adulto e isto constitui um
excesso de tensão que ela não tem como lidar com suas defesas precárias. Reagir
à criança com ira serve para aumentar a tensão da criança e consequentemente
sua reação.
· - A criança
precisa de um adulto que consiga reduzir sua tensão (para-excitação) e não de
um adulto que injete mais tensão em seu aparelho psíquico.
· - Ao mesmo
tempo, a partir de determinada idade, a criança precisa de espaço para
reagir às frustrações normais, pois muitas vezes ela utiliza deste método para
viver outras tensões internas. Por exemplo, pede mais pão que acabou e chora,
pois está desmamando e usa este momento para exercitar a reação pela frustração
de lhe estar sendo negado o peito.
As crianças passam por um período de
dependência absoluta, dependência relativa e depois precisa de espaço para
seguir rumo à independência.
É importante ressaltar então que na
primeira fase, a criança precisa de acolhimento e ter reduzido ao máximo suas
frustrações, somente desta forma ganhará segurança e terá vínculos fortes o
suficiente para seguir para as fases seguintes.
Isto posto, atitudes como deixar a
criança chorar no berço, forçar para que a criança coma e outras reações que
produzem sofrimento em fase precoce podem ser classificadas como maus tratos
independente de suas justificativas.
É necessário que os pais saibam que ao
ter um filho necessitam prover atenção integral deles ou de alguém que possa
substituí-los e que seus desequilíbrios de humor refletem muito de forma
prejudicial à criança.
Por outro lado, a partir de uma
determinada idade a criança precisa ser frustrada para poder dar vazão em suas
tensões e criar novas defesas mais elaboradas, mas nestes momentos o adulto
deve tomar muito cuidado para só frustrar se realmente for preciso sem criar
teorias justificatórias que servem para usar a criança como suporte de suas
próprias tensões.
Um outro aspecto importante é a
permeabilidade da criança aos sentimentos, mesmo reprimidos, que o adulto
manifesta de forma não verbal. Isto significa que muitas vezes o estado
emocional da criança não é nada senão o reflexo de sentimentos negativos do
adulto como ira, medo, ansiedade, tristeza etc que a criança manifesta de sua
forma primitiva, mas este assunto é extenso e merece um outro artigo.
E o mais importante, o adulto deve estar
pronto para acolher a criança 5 minutos depois que passar sua reação infantil à
frustração como o choro ou o descontrole motor, pois ele ainda é e será durante
muito tempo o seu porto seguro. O adulto também deve ensinar à criança a reparação, ou seja, se houver exagero da sua parte, pedir desculpas para a criança, pois, errar é humano e a criança deve saber disto.
Acolher ou Frustrar. A abordagem Psicossomática, através de seu trabalho clinico, ajuda a equilibrar estas
duas atitudes aparentemente antagônicas sempre com o objetivo de, por um lado
ajudar no desenvolvimento sadio da criança e por outro lado, apoiar a elaboração
dos conflitos internos do adulto de outra forma que não use a criança como suporte.
Muito bom o texto, elucidativo e importante!
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