Atualmente
é muito comum a descrição de doenças e seus tratamentos observando basicamente
seus reflexos no corpo, regidos pela fisiologia e apoiados na genética e na sintomatologia
clínica como descreve o DSM-IV. Acompanhando esta tendência a psiquiatria em
seu viés mais organicista e fundamentado na causa e efeito observa nos
pacientes com transtornos de humor as distorções nos níveis de
neurotransmissores e corrigem o problema com o uso de medicamentos que
estimulam ou inibem o sistema nervoso central.
Dentro desta mesma visão em que
vigora a delimitação de campo de atuação das especialidades médicas, a
psicologia também tenta abordar somente sintomas e doenças emocionais nas quais
a etiologia estaria restrita a conflitivas psíquicas tão bem explicadas pela
metapsicologia freudiana ou ainda pela abordagem comportamental e/ou cognitiva.
O ser humano assim dividido deveria
buscar o tratamento médico para as doenças e o tratamento psicológico para suas
desordens comportamentais ou emocionais, sendo os primeiros atribuídos
fundamentalmente aos sintomas apresentados e os últimos buscados em conflitos
psicológicos internos com gênese infantil ou em distúrbios comportamentais a
serem extintos ou modificados.
No meio do caminho estariam questões fundamentalmente comportamentais e
de caráter como as drogadicções, transtornos alimentares como a Anorexia,
Bulimia e até a obesidade mórbida e ainda as novas compulsões como o workaholic,
o vício em internet entre outros. Estes todos dependeriam de um tratamento
conjunto tanto para a parte física, quanto para a parte emocional. Este é o
tratamento multidisciplinar ou interdisciplinar dependendo da forma em que os
profissionais interagem.
Durante anos, as pessoas se trataram
como descrito acima, dando origem ao sistema de saúde como é visto hoje regido
pelo tratamento médico e com encaminhamentos para tratamento psicoterapêutico
quando necessário.
Este modelo começou a complicar quando a própria medicina, por
especialidades, reconhece que o sistema
imunológico, as emoções e o sistema neurológico possuem interdependências,
dando origem a uma nova especialidade médica que é a Psiconeuroimumologia.
Mas antes de passarmos a tratar de
como a psicologia também passou a integrar o psíquico ao somático, precisamos
discutir brevemente alguns princípios básicos desta conjunção.
Basta ressaltar que os estados
emocionais interferem muito no funcionamento físico e vice-versa e que uma
relação entre eles precisa existir, visto que, é o homem imerso em suas emoções
e relações sociais, que adoece.
Para ilustrar esta interdependência
poderíamos citar doenças como a úlcera nervosa, a enxaqueca, a hipertensão e a
maioria das doenças de pele que, classicamente são descritas como possuindo um
fundo psicológico associadas a seu reflexo no corpo, e nas quais o simples
tratamento sintomático não traz resultados satisfatórios, devendo vir
acompanhado de intervenções psicológicas.
É neste campo de relacionamento
entre o funcionamento plenamente corporal e fisiológico e sua relação com as
emoções que surge a psicossomática.
A psicossomática pode ser vista
basicamente de duas formas, ou como uma especialidade com o objetivo de
colaborar no tratamento de certas doenças resistentes ao tratamento
medicamentoso tradicional. Neste caso a psicossomática seria aplicada
dependendo do tipo de doença que se apresentasse.
Outra forma de encarar a psicossomática é considerando que o ser humano é
composto de corpo e psiquismo, que atuam em conjunto e adoecem também em
conjunto. Desta maneira a psicossomática passa a ser uma forma especial de
enfocar as demandas de tratamento, que leva em consideração a influência que a
subjetividade faz no corpo e vice-versa. Isto significa que independente da
queixa do paciente, a tensão pode se manifestar no psiquismo como, por exemplo
uma fobia ou no corpo através de uma manifestação alérgica ou uma gastrite.
O objetivo da psicoterapia psicossomática seria então, uma escuta preparada
para acolher e acompanhar o paciente, tanto na elaboração de conflitos
psíquicos pela terapia psicanalítica, quanto criar um ambiente propício para o
desenvolvimento de recursos psíquicos, de forma que o paciente possa dar vazão
àquilo que no momento somente o corpo está em condições de servir de suporte.
Normalmente esta problemática mais regressiva ocorre diante das
vicissitudes precoces da vida do paciente, que distorceram a capacidade do
sistema psíquico se articular diante dos conflitos e dificuldades devido a
problemas nos cuidados maternos, por privações, traumas e violência ocorridos num
momento de formação da individualidade, da identidade, da auto-estima, e da capacidade
de reação à agressão.
Esta articulação entre corpo e psiquismo pode ser compreendida de várias
formas e neste blog apresentaremos, a teoria da escola francesa de
psicossomática com base psicanalítica e acrescentaremos uma abordagem
psicossomática que é nossa linha de pesquisa focada na distorção da percepção
do trauma.
(Prado, A.F - A Alienação Perceptiva : O Assédio Moral Infantil e sua relação com os processos de somatização, Cap 5 - Monografia Especialização em Psicossomática Sedes Sapientiae)
(Prado, A.F - A Alienação Perceptiva : O Assédio Moral Infantil e sua relação com os processos de somatização, Cap 5 - Monografia Especialização em Psicossomática Sedes Sapientiae)
Parabéns pelo blog! Sou estudante de psicologia, e achei muito interessante esse post sobre abordagem psicossomática.
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