quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

É correto Frustrar as crianças? A Tênue linha entre prover limites e os maus tratos.


            Este assunto é muito delicado e está na raiz de muitas doenças. 

Por um lado, sabemos que a violência contra a criança é nociva e proibida por lei e por outro lado sabemos que atitudes por parte dos pais para evitar que as crianças se comportem de forma inadequada ou perigosa e que geram reações fortes de choro por parte da criança são comuns e inevitáveis.
Para abordar este tema teremos que tratar em separado a perspectiva dos pais e depois na perspectiva da criança, para depois falar a respeito da interação entre eles.

Os pais:
·      - Nossa principal defesa contra o aumento de tensão é a racionalização, ou seja, criar uma teoria que reduza nossa tensão.
·      - A criança é um suporte perfeito para liberarmos nossas tensões. Quando estamos no limiar da explosão, qualquer atitude da criança que nos desagrade pode servir para descarregarmos toda tensão acumulada sobre ela de uma só vez. Isto responde a reação exagerada que muitas vezes temos diante de uma atitude normal da criança, como quebrar um objeto ou riscar uma parede.
·      - Somos profundamente influenciados por nossas vivências infantis. Um dia, certamente fomos duramente repreendidos por um adulto e não pudemos reagir e isto ficou marcado em nós. Só agora temos as perfeitas condições de imitar nossos pais e temos uma pessoa mais fraca para servir de suporte.
·      - Somos muito influenciados por terceiros, principalmente pais ou profissionais da saúde. Não existem provas científicas que incentivem frustrações recorrentes em nome da educação ou para que a criança, quando se tornar mais velha, tenha limites.
·      - Todos sabem que as crianças imitam os adultos, portanto as reações agressivas dos adultos funcionam muito mais para ensinar a agressividade para a criança do que para dar limites.
·      - É importante ressaltar que a criança possui teorias mágicas e uma onipotência natural que faz parte do desenvolvimento de sua personalidade. Um adulto que pense que a criança está medindo forças consigo deve entender que está criando uma teoria para justificar atitudes próprias suas que tem pouco a ver com a criança.

A criança: 
·      - A criança é um ser muito frágil e sempre é a parte mais fraca numa relação com um adulto, mesmo que muitas vezes tente-se justificar que a criança possui um poder de controle sobre o adulto. 
·      - A criança pequena está em fase de desenvolvimento e nesta idade, suas defesas contra o aumento de tensão são predominantemente de duas ordens : Desconforto que gera reações de choro ou reações motoras de jogar coisas ou se jogar no chão. As defesas mais evoluídas do adulto como argumentar, discutir, gerar teorias justificatórias e até mesmo comer algum doce ou chocolate são muito evoluídas para uma criança.
·      - A criança necessita de uma fase de acolhimento para desenvolver segurança e as outras defesas contra o aumento de tensão.
·      - A criança é muito permeável a tensão proveniente da ira de um adulto e isto constitui um excesso de tensão que ela não tem como lidar com suas defesas precárias. Reagir à criança com ira serve para aumentar a tensão da criança e consequentemente sua reação.
·      - A criança precisa de um adulto que consiga reduzir sua tensão (para-excitação) e não de um adulto que injete mais tensão em seu aparelho psíquico.
·      - Ao mesmo tempo, a partir de determinada idade,  a criança precisa de espaço para reagir às frustrações normais, pois muitas vezes ela utiliza deste método para viver outras tensões internas. Por exemplo, pede mais pão que acabou e chora, pois está desmamando e usa este momento para exercitar a reação pela frustração de lhe estar sendo negado o peito.

As crianças passam por um período de dependência absoluta, dependência relativa e depois precisa de espaço para seguir rumo à independência.
É importante ressaltar então que na primeira fase, a criança precisa de acolhimento e ter reduzido ao máximo suas frustrações, somente desta forma ganhará segurança e terá vínculos fortes o suficiente para seguir para as fases seguintes.
Isto posto, atitudes como deixar a criança chorar no berço, forçar para que a criança coma e outras reações que produzem sofrimento em fase precoce podem ser classificadas como maus tratos independente de suas justificativas.
É necessário que os pais saibam que ao ter um filho necessitam prover atenção integral deles ou de alguém que possa substituí-los e que seus desequilíbrios de humor refletem muito de forma prejudicial à criança.
Por outro lado, a partir de uma determinada idade a criança precisa ser frustrada para poder dar vazão em suas tensões e criar novas defesas mais elaboradas, mas nestes momentos o adulto deve tomar muito cuidado para só frustrar se realmente for preciso sem criar teorias justificatórias que servem para usar a criança como suporte de suas próprias tensões.
Um outro aspecto importante é a permeabilidade da criança aos sentimentos, mesmo reprimidos, que o adulto manifesta de forma não verbal. Isto significa que muitas vezes o estado emocional da criança não é nada senão o reflexo de sentimentos negativos do adulto como ira, medo, ansiedade, tristeza etc que a criança manifesta de sua forma primitiva, mas este assunto é extenso e merece um outro artigo.
E o mais importante, o adulto deve estar pronto para acolher a criança 5 minutos depois que passar sua reação infantil à frustração como o choro ou o descontrole motor, pois ele ainda é e será durante muito tempo o seu porto seguro. O adulto também deve ensinar à criança a reparação, ou seja, se houver exagero da sua parte, pedir desculpas para a criança, pois, errar é humano e a criança deve saber disto.
Acolher ou Frustrar. A abordagem Psicossomática, através de seu trabalho clinico,  ajuda a equilibrar estas duas atitudes aparentemente antagônicas sempre com o objetivo de, por um lado ajudar no desenvolvimento sadio da criança e por outro lado, apoiar a elaboração dos conflitos internos do adulto de outra forma que não use a criança como suporte.

(Prado, Alfeu F. para Blog http://psicossomaticaararaquara.blogspot.com.br)

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